Resenha – The Black Witch (The Black Witch Chronicles #1)

Bom, eu não sou muito de fazer resenhas, mas vou tentar dar uma melhorada nisso. Ou seja, se tudo correr bem vou ter alguns posts de resenha esse ano sim. Provavelmente a maioria delas vai ser de livros em inglês mesmo, seja porque são livros que não estão sendo lançados aqui ou porque ainda não foram traduzidos.

E, para começar, um livro que definitivamente me pegou de surpresa.

Uma nova Bruxa Negra se erguerá... Seus poderes vastos além de qualquer imaginação.

Elloren Gardner é a neta da última Bruxa Negra profetizada, Carnissa Gardner, que afastou as forças inimigas e salvou o povo Gardneriano durante a Guerra do Reino. Mas enquanto ela é a imagem perfeita de sua avó famosa, Elloren é totalmente desprovida de poder em uma sociedade que preza a habilidade mágica acima de todo o resto.

Quando ela recebe a oportunidade de seguir seu sonho de ser uma apotecária, Elloren junta-se aos seus irmãos na prestigiosa Universidade Verpax para abraçar um destino próprio, livre da sombra do legado de sua avó. Mas ela logo percebe que a universidade, que admite todo tipo de pessoas - incluindo os Icarals manejadores de fogo, inimigos jurados de todos os Gardnerianos - é um lugar traiçoeiro para a neta da Bruxa Negra.

À medida que o mal aparece no horizonte e a pressão para viver de acordo com sua herança cresce, tudo o que Elloren pensou que sabia vai ser desafiado e destroçado. Sua melhor esperança de sobrevivência pode estar entre o grupo mais improvável de desajustados... Se ela apenas puder encontrar a coragem para confiar naqueles a quem ela foi ensinada a odiar e temer.

Autora: Laurie Forest
Lançamento: maio/2017
Editora: Harlequin Teen
Gênero: Fantasia YA
Goodreads: aqui
Amazon: aqui

Normalmente eu não leio YA e juvenil em geral. É raro eu ter paciência para protagonistas com menos de 20 anos, sem falar que a maioria dos YA que tenho visto segue umas mesmas fórmulas que deixam a história previsível e cansativa para mim. As poucas séries mais juvenis que eu acompanhava, já abandonei, e nos últimos dois ou três anos conto nos dedos quantos livros nessa linha me seguraram. Justamente por causa disso eu não tinha nem olhado para esse livro direito, apesar de o título ter me deixado um pouquinho curiosa.

Aí estou eu passeando no Goodreads, depois de passar raiva com um livro de uma série que eu acompanhava (devidamente abandonada) e por acaso abri o link do livro. Lançado na mesma semana, avaliação média de 2,16 estrelas. Duas estrelas. Em um lançamento. De editora grande. Se o título e a sinopse não foram o suficiente para me deixar curiosa, isso foi. E aí descobri a "polêmica" em torno desse livro. Não vou entrar em detalhes, mas isso me fez voltar lá no Goodreads e correr um olho nas resenhas... E de de cara com uma resenha positiva de uma resenhista que confio. Okay, já tive uma decepção literária essa semana, pegar um livro que nem estava nos planos não vai me matar, não é? Comecei a ler.

Já vou fazer um apanhado geral de cara. Não tem quase nada de romance, comparado com outros livros juvenis. E o que tem não tira o foco da história (eu ouvi um amém?). Não tem muita ação/quebra pau/batalhas/sangue/etc. É uma história focada em desenvolvimento de personagem, e os conflitos não têm nada de épicos. Então, para quem não gosta de livro focado em desenvolvimento de personagem, realmente não é uma boa pedida.

 

"Eles podem parecer humanos, Elloren, mas não são."
Os olhos muito humanos e aterrorizados da mulher estão marcados na minha mente.

Pela resenha que tinha lido, comecei esse livro esperando uma história interessante, com uma boa construção de mundo, mas nada além disso. E eu não fazia ideia do tanto que ia me surpreender. A começar pela construção de mundo. Logo de cara é fácil notar o cuidado que a autora teve com isso: são vários reinos, várias raças, um passado que se reflete nas ações dos personagens e culturas completamente diferentes. Religiões, costumes, visões políticas, preconceitos: tudo isso foi bem trabalhado em cada uma das raças que aparecem na história. E são justamente essas diferenças que vão se tornar a força motriz do enredo.

Agora, sobre o enredo em si... Elloren, a protagonista, é uma garota de dezessete anos que vive em uma vila isolada e foi criada pelo tio, já que seus pais morreram na guerra. Quando sua tia, membro do Conselho dos Magos, decide que é hora de ela noivar, seu tio e guardião a manda para a universidade, para estudar para ser uma apotecária, como Elloren sempre sonhou. Nada de novo, não é?

Não exatamente. Os Gardnerianos são extremamente religiosos e conservadores. Eles têm visões rígidas sobre o que é certo e o que é errado, bem e mal. Elloren cresceu com esses ensinamentos, mas aquilo em uma vila isolada e na cidade grande são duas coisas diferentes. Ainda por cima, a universidade aceita pessoas de todas as raças, não só os Gardnerianos, que se consideram uma raça pura. Pela primeira vez, Elloren é colocada cara-a-cara com pessoas diferentes dela mesma, vindos de culturas diferente e com suas próprias certezas sobre o mundo. E a única certeza que todos eles têm em comum é odiar os Gardnerianos e especialmente Elloren, por causa da sua família. E, para melhorar, muitos Gardnerianos já estão se virando contra ela por causa da sua rivalidade com outra garota. E assim Elloren acaba fazendo amigos em lugares inesperados e descobrindo que o mundo não é preto e branco, como sempre lhe ensinaram.

 

"As pessoas vêem o que esperam ver", ele diz bruscamente. "Através de um filtro de seu próprio ódio e preconceito."

The Black Witch é um livro que fala sobre preconceito, racismo, homofobia, machismo, e todas essas coisinhas desagradáveis do dia-a-dia. E o motivo da polêmica ao redor do livro: ele nos coloca dentro da cabeça de uma protagonista que sim, é privilegiada, e nunca percebeu isto. Elloren cresceu dentro de uma sociedade que prega que outras raças são impuras - quando não dizem que são demoníacos ou que não são humanos. Uma sociedade quer obrigar as mulheres a estarem noivas aos dezoito anos, e onde muitas já estão prometidas aos treze. Uma sociedade que usa povos derrotados na guerra como trabalho escravo, ao mesmo tempo em que diz que eles estão muito melhores agora, trabalhando, do que antes de serem conquistados, porque são pouco mais que animais. Uma sociedade que quer caçar uma raça que consideram perigosa e eliminá-los. E Elloren reproduz tudo isso. É aquela questão de que o nosso meio nos molda. Nossa visão de mundo é construída de acordo com o que nos é ensinado e de acordo com nossas experiências.

 

"Não me agradeça," ele diz, sem nenhum traço de diversão. "Uma educação real não deixa sua vida fácil. Ela complica as coisas e deixa tudo bagunçado e incômodo. Mas a alternativa, Elloren Gardner, é viver sua vida baseada em injustiça e mentiras."

E por que eu amei tanto esse livro? Justamente por causa desse trabalho em cima dos preconceitos. A Elloren age assim, sim, mas aos poucos vai vendo que só conhece um lado da história. E que a história não é algo fixo - ela é fluída, muda de acordo com o ponto de vista de quem conta, e nenhuma verdade é absoluta. Ela passa a questionar seus valores, suas ações e escolhas. Ela passa a entender que existe um motivo para todas as outras raças odiarem os Gardnerianos, revê suas atitudes e faz escolhas diferentes.

 

"Estou descobrindo que gosto de conhecer novas pessoas", ela diz em voz baixa. "Pessoas diferentes de mim. Estou cansada de ter medo de todos."

A trama política que está por trás de todo o enredo é dolorosamente real. É fácil demais se identificar com as situações, especialmente depois de acompanhar esse crescimento de Elloren e dos outros personagens. E, falando nos personagens, eles são complexos, bem construídos e bem diversificados. Não consigo nem reclamar das duas personagens que achei mais rasas, porque mesmo assim elas me soaram muito reais. Elloren não cresce sozinha. Ela não é uma "escolhida" que vai mudar o mundo - mas o seu mundo está mudando.

The Black Witch foi uma das melhores surpresas literárias que já tive. É um livro de leitura leve e dinâmica, mesmo que não tenha cenas de ação e sangue o tempo todo, mas ao mesmo tempo é um livro que te faz pensar. Pode ser um livro de fantasia, mas é um retrato um tanto quanto necessário do nosso mundo.

 

"Estou começando a pensar que é tudo besteira, de qualquer forma", eu digo a ele. "Todas essas coisas sobre o Mal. Mas isso não muda o fato de que todo mundo parece acreditar nisso."

The Black Witch é o primeiro livro de uma série. Wandfasted, uma prequela, vai ser lançado em julho, e de acordo com o Goodreads a série vai ter 4 livros. Provavelmente o próximo livro vai ter mais ação e já coloquei na minha lista de "esperando ansiosamente", porque quero muito ver onde a autora vai levar essa história.

Ah, sim, e o final não é cliffhanger, apesar de ter um bom gancho para o próximo.

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